domingo, 17 de maio de 2009

Brasileiro desiste, sim

Lembra-se daquela história de que "brasileiro não desiste nunca", muito usada na propaganda do governo? Pois não é que um dos garotos propaganda da história desistiu do Brasil?
Chama-se Ronaldo Nazário de Lima, mais conhecido como Ronaldo Fenômeno, e confessou ontem, durante a sabatina Folha, que prefere educar os filhos na Europa. Por dois motivos básicos: segurança e educação. Ronaldo contou que, quando seu filho vem ao Brasil e se junta a garotos brasileiros da mesma faixa etária, é impressionante a quantidade de palavrões que dizem os amigos do filho. Já Ronald é "doce", "europeu", diz o pai. Na prática, quer dizer o seguinte: a educação que recebe na Espanha, onde vive com a mãe, o torna mais civilizado que seus companheiros no Brasil. Quando observei que a comparação parecia racista, o jogador devolveu: é apenas realista. Fechou com uma frase irrespondível: "A gente tem que pensar nos filhos".
É nessas horas que o Brasil dói na gente. É quando uma pessoa inteligente, informada e que teve a oportunidade de comparar o país com outro (ou outros) desiste de criar os filhos nestes tristes trópicos. E não se trata de um filho ou neto de espanhol, italiano, russo, javanês ou marciano, mas do arquétipo do brasileiro. Se alguém precisar de um personagem com todas as características que se atribuem ao brasileiro, chamará Ronaldo para o papel. Dói mais porque uma pessoa com o jeito Ronaldo de ser desiste do Brasil para os filhos depois de 14,5 anos de dois presidentes que mais história e preocupação tinham com a questão social, que envolve, como é óbvio, segurança, educação e outras coisas mais. Como fica ilusória essa história de potência emergente diante da constatação de que não emergiu um país em que um brasileiro típico deseje criar filhos.
crossi@uol.com.br
Fonte: Folha de São Paulo - Clóvis Rossi

Um comentário:

VLemainski disse...

Se agirmos de forma emocional concordamos com a matéria. Se agrimos de forma racional concordamos com o Ronaldo.